segunda-feira, 16 de junho de 2014

Exortação.


Não deixai que a libertação plena vire tua eterna prisão.
Não deixai que a constante elucidação das coisas te prive de uma nova visão.
Não deixai que a luz que ilumina a escuridão de teus caminhos te cegue.
Não deixai que a afirmação contínua das singelezas da vida te negue.
Não deixai que o amor se suicide em carinhos.
Não deixai que a flor esteja indefesa arrancando-lhe os espinhos.
Não deixai que a verdade de tão elevada vista o manto da mentira.
Não deixai que a cura em excesso mais sofrimento em ti se infira.

Não deixai que a fuga cotidiana se torne a cotidiana fuga.
Não deixai que a roda que rege o mundo te deixe entregue a loucura.
Não deixai que de normal se adjetive esta falsa estrutura.

Não deixai que a satisfação da carne se arme contra a própria.
Não deixai que a alma com sabedoria adormeça em agonia opróbria.
Não deixai que as dualidades se divorciem da unidade que as eleva.
Não deixai que as disciplinas te mantenham imerso na frieza das regras.
Não deixai que a maldade necessária ao viver mate a tua essência.
Não deixai que o adulto que hoje és distancie teus pés do que um dia foi inocência.
Não deixai que o artifício do ofício se torne teu vício e também teu amparo.
Não deixai que um sorriso comum se perca em algum momento mais raro.
E que as mais belas poesias se percam em verborragia.
Não deixai que o excesso te fira e só interfira em tua evolução.

A Vida e o Universo atentam aos dispersos que por estes versos aprendam a lição.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Tártaro dos pássaros engaiolados.

Inevitável é não dar as costas ao prometido
Sua sedução e suas promessas de uma vida melhor
longe do peso da cobrança de um compromisso firmado
em relações defasadas
Inevitável é dar ouvidos a todo o nosso trato
E assinar o contrato sem visualizar o conteúdo
Só a tua forma me bastava.
Imagens sensoriais, na pele e nos lábios,
alegorias do poema que fugiu da prisão das linhas da folha de caderno
E solto, caiu no chão sem ter onde se segurar,
lançou-se além do limite pensando poder voar.
Será essa a vida?
Amarra sofrida, Poesia em grades ?
De que me adianta o pôr-do-sol,
se minha boca sedenta não pode provar do sabor doce
e ao mesmo tempo amargo do crepúsculo das tardes ?
Tais promessas de fugas de mochila nas costas e coração no mundo,
com a visão no agora, e o toque da sua mão na minha,
o teu cheiro no meu cheiro, o meu beijo no teu beijo,
o teu sexo no meu sexo, teus complexos diante aos meus complexos
Tais promessas de uma vida longe de toda a minha mesquinhez
a minha insegurança em amar a minha condição de pássaro de asa quebrada
que tenta ser predador
Jogue fora por mim, na lixeira dos teus anseios egóicos
Pois pássaro engaiolado sou
Cego de asa quebrada
E tu fostes meu alpiste.
E de ti alimentei-me com o tesão da vida,
com o fulgor dos predadores estraçalhando suas presas
E você queria que eu te comesse,
e a cada bicada no teu alpiste eu me sentia menos preso e menos presa.
E mais predador, e mais digno, e mais iluminado, mais felizardo,
mais liberto dessa gaiola que me separa do universo
e mais corajoso pra voar o mais alto que puder,
para provar do mesmo alpiste em outros confins
desta divina aventura que é ESTAR VIVO!
E tal como o filho de Dédalo, queimei minhas asas de cera
(que nem ao menos são legítimas!)
ao almejar o mais alto do Céu.
E despenco ao solo, despatriado, longe da tua boca que almeja bocas mais sofridas,
que a teu ver transparecem a sensualidade das dores do viver
E caio só em meio ao nada, cego de asa quebrada
Com tua voz dizendo do seu amor em meu ouvido.
Lembranças são o que me restam, torturas do Tártaro dos pássaros engaiolados
Que os alimentam com alpiste no crepúsculo de suas almas.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Carne nova.

O mundo é seu inimigo.
Declarado ou não.
Todos querem tua cabeça em uma bandeja. Vivo ou morto.
Ou um mero morto-vivo, sem ideais, visão ou noção de objetivo.
Todos são adversários.
Teus amigos olham por ti mas também correm pra chegar primeiro.
O que vale não é a intenção.
Um moedor de carne humana fatia os que ficam para trás, te apoiam, mas confie em ti apenas !
Quem faz do companheirismo morada da alma, jaz na terra cega.
Você é o louco contra o mundo.
Firme teus pés na lama primeiramente, antes de firmar teus pés no que apontam como fato.
Teu instinto que guie o teu ato, não o bom-senso que lança todo dia carne nova ao buraco.
Que a loucura seja teus pés, a vontade tuas mãos, e o discernimento teus olhos que encaram de frente o inimigo.
Você e ele.
Vivo ou morto. Se assim for preciso.

domingo, 6 de abril de 2014

Dicotomia.

Dicotomia da razão !
Eis o Homem, entre o falo e o coração !
Nada mais que parte dos impulsos
ditados por dois órgãos autônomos de si,
criatura maldita
Erigido pelo desejo
e bombeado pela recusa
Eis o Homem, entre o cortejo da fêmea
e o brincar de coruja !

domingo, 30 de março de 2014

Manifesto manifesto.

Apresento-vos meu manifesto poético !
O poema-vivo, manifesto
nas entrelinhas de vossas vivências

Doutrinas não regam os jardins do poeta liberto
pois a vivacidade não brota sobre raízes mortas

O poema é um anjo e um demônio
Cada palavra transcrita,
um membro dissecado das duas criaturas em seus alicerces

o que lhes arranca as asas.
o que lhes arranca o chão.

Transcendência !
A felicidade trepando com a ilusão.

concomitâncias poéticas contraditórias segundo a lógica dos sentenciadores
E perfeitamente convincente para quem sente em si as dores

Vivaz ! Louco ! Fugaz !
Três vivas ao Poema que se faz vivo !
Viva ! Viva ! Viva !
Pândegas da morte faz quem dele se aviva.

O acaso é a fonte da transitoriedade dos fatos
Você é um fato, e um feto
[fecundado pelo acaso
Transitório pela Casa.

Sombra incerta é o final
piada satânica de Deus

Heiamos de pandegar, viver até morrer
Nos embriagando da ocasião, fazendo vivo o poema dos sem-vida
Que por si só é morto, eis que aqui vos anuncio a redenção:







Dentro de si mesmos.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Circo Voador.

Sob as luzes da Lapa
não enxergo nada
além dos Arcos
Tudo me parece um circo
que voa Alto
a platéia são os indigentes
a calçada suja é o meu palco
bem-vindo seja ao espetáculo
pague e dispute lugar com os ratos
Financie o meu show
com um pouco de sua boa vontade
Na cidade maravilhosa
de nome Fome
teus palhaços se devoram
pois a tempos não comem
Fazem estripulias
é o mega circo dos horrores
vendem as suas filhas
em troca de míseros favores
É o mega circo dos horrores
Financie o meu show
pague com a hipocrisia
de quem nunca errou...

segunda-feira, 24 de março de 2014

Sangue e mel.

Em meus dedos
a face dos meus medos
na ponta da caneta
a tinta preenche o vazio do papel
que é da alma o espelho
Escasso é o espaço entre a terra e o céu
Mas nestas linhas
onde o poeta caminha
me seguro nesse muro que alinha uma a outra
Eu sei que a vida é louca, ao mesmo tempo pouca
e já rouca ela grita por menos sangue, mais mel...

sábado, 22 de março de 2014

Devaneios.

Quero morrer bem cedo
só pra saber
o que tem do outro lado do espelho
E escapar dessa mania humana
de matar a si próprio de joelhos
Pra escapar de toda essa malícia
que assola cada célula nossa
Que cada uma vire pó e só assim
eu me torne melhor do que sou
agora...]
Nada sou agora
Só uma peça imposta
produto expelido das feridas de alguém
que brinca e brinda os copos
se embebedando nos devaneios de sua própria criação
Sou a incógnita...
a loucura das mentes empodrecidas de fé e razão
Tamanho lascivo e tentador
mal é este que me acompanha
Que me vicia, que me iluda
Jesus Cristo, Buda
Oh tortura ! São a mesma criatura
São todas elas em seu acesso de loucura:
O espelho
o joelho
o devaneio
a ferida
a incógnita
a dúvida...
Pois se há uma ordem estabelecida em meio a tanto caos
seria a ordem em si, produto de todo esse Mal...

Madrugada.

A madrugada e os seus mistérios tentadores
É no silêncio que desatento eu me prospero
A carne quente, o sangue frio
É chave e corrente, chama e pavio.

A madrugada é nascente ao oposto das vidas:
Invertendo torrentes, adormecendo viventes
Fazendo-os trincar entre os dentes
desventuras sofridas]

A madrugada é faminta de desejos ímpios
íntimos, se libertam e se banham em pecado
Manchando a lua pálida com escárnio
Vomitando em sua pureza quase de ímpeto.

A madrugada e os seus demônios geniais
Trazem prazer aos amantes de alma mordaz
Levem-nos à loucura, gozem com suas dores !
A madrugada e os seus mistérios tentadores.

Proposta do blog.

Criado pelo [sub]poeta Matheus Duarte, com o objetivo de divulgar seus trabalhos ligados aos poemas e textos acerca da condição humana.

Espero que apreciem o blog e suas temáticas.
Até!